13 de fev. de 2015

Vídeo que finalizei em dezembro de 2014.

SAUDADES DA LUZ DE MAIO

21 de mar. de 2013

Demarcando território, em tempos de fronteiras fluidas

A percepção de uma diferença entre a linguagem do vídeo e a linguagem das outras mídias audiovisuais (o cinema e a TV) marcou o pensamento a respeito da produção videográfica em seus diversos formatos até a década de 90 do século XX. A questão das especificidades do vídeo começou a ser vista como obsoleta no momento em que a tecnologia digital aplicada à produção e difusão do audiovisual, processo já amplamente disseminado no início dos anos 2000, fundiu as técnicas, linguagens e formatos num caldo cada vez mais complexo e indiferenciado.

Assim, categorias como vídeo arte, vídeo experimental, filme de ficção, documentário, vídeo clip, entre outras, embora ainda encontrem defensores e meios de exibição específicos, tornam-se cada vez mais híbridas em sua estrutura e indiscriminadamente disponíveis na vasta planície da internet. De minha parte, sempre identifiquei o melhor do meu trabalho com o terreno tradicionalmente conhecido como vídeo experimental , e com este nome, eu mesmo sempre fiz questão que meus vídeos fossem rotulados.

Por que “experimental”? O termo vídeo arte sempre me pareceu algo pomposo e demasiadamente vago, como é a própria definição de arte. O termo vídeo independente define somente em parte aquilo que pretendo, pois se independência pressupõe liberdade, não pressupõe necessariamente alguma contundência na expressividade. E liberdade e expressividade são palavras chaves para mim.

O terreno da experiência (daí o experimental) pressupõe algum risco, desprendimento e principalmente liberdade. Quem experimenta, quer se despojar daquilo que está consolidado. Para isso, é bom que não se tenha compromisso com nada mais que não seja sua própria demanda expressiva, tanto na forma quanto no conteúdo, se é que essas duas entidades abstratas em algum momento se separam. Isto é exatamente o que procuro quando realizo um vídeo , embora eu admita a impossibilidade de se desprezar totalmente a técnica, o método e a força da tradição.

Comecei este texto falando de um momento em que era perceptível uma diferença do vídeo em relação ao cinema e a TV. Concordei em seguida com o fato de isso não ser mais totalmente verdadeiro. Na verdade, a percepção geral hoje em dia é de que o vídeo seja apenas um meio que está presente nas demais formas expressivas contemporâneas e em permanente diálogo com elas. Não ignoro este fato. Por que então insisto nesta conversa de vídeo experimental?

Recentemente a tecnologia digital propiciou uma confluência entre dois aspectos do audiovisual que há poucos anos eram inconciliáveis: a alta qualidade de imagem (compatível em certos aspectos com a imagem do cinema tradicional) e o preço acessível das câmeras. Os melhores equipamentos em HD (Hight Defincion), com tecnologia DSLR, simulam com perfeição o funcionamento de uma câmera de cinema. A fotografia pode ser realizada com toda (ou quase toda) a precisão e rigor de uma câmera 35mm, desprezando a utilização do visor eletrônico típico do vídeo para aferimento de foco e diafragma, embora eu considere este procedimento uma nostalgia dispensável.

Isso para muitos representa a possibilidade de um cinema barato. Para mim, representa a possibilidade de um vídeo experimental em alta definição (nunca dispensarei o visor eletrônico!) Estou pela primeira vez usando o HD para produzir um novo vídeo que dá seqüência aos trabalhos postados neste blog, o que muda bastante os parâmetros expressivos do trabalho, em relação ao que eu fazia com o vídeo em formato standart.. Sempre imaginei que quando estivesse diante deste sonho dourado, hoje realizado, de uma câmera de cinema barata (mesmo que digital), eu correria para fazer mais um filme. Porém, para minha surpresa, não quero fazer mais um filme. Quero fazer um novo vídeo experimental .

Voltando à questão técnica relativa ao DSLR, a diferença entre a utilização ou não do visor eletrônico é o que vários autores apontavam como um dos principais elementos definidores de uma linguagem videográfica específica, em contraponto à linguagem do cinema. A fotografia, utilizada no cinema, seria verdadeiramente uma “escrita da luz”. O que vemos no visor da câmera de cinema, não é o que será impresso no filme. Temos que medir, quantificar a luz, para prever com certa precisão o resultado. Com o visor eletrônico da câmera de vídeo, ao contrário, o que vemos ali é exatamente o que será registrado. Ou seja: o vídeo (do latim, eu vejo) ou a videografia, é muito mais uma “escrita da visão”, que uma “escrita da luz”, embora a luz ainda seja nossa matéria prima. No vídeo, registro o que eu vejo. Na foto, registro a luz que aferi. Isto tem uma série de implicações na natureza do trabalho de captação das imagens, e conseqüentemente no resultado final, mas fiquemos aqui com a mera referência ao fato.

Com estas afirmações, pode parecer que eu esteja reacendendo a velha e ultrapassada questão das especificidades do cinema e do vídeo, que para mim, assim como para a maioria, já não existe há muito tempo. Isto me força a pensar novamente nesta velha dicotomia, tão desmentida, mas que se apresenta novamente para mim, e redefini-la sob um novo ponto de vista. Penso que o que existe, e sempre existiu, é uma opção minha por certos procedimentos narrativos (muito utilizados desde sempre pelos videomakers e mais ligados ao terreno da edição que ao da captação das imagens) que os realizadores de cinema de uma maneira geral sempre desprezaram e continuam desprezando. Sinto-me completamente desmotivado para colocar atores, paisagens ou fatos diante de uma câmera, fazer um enquadramento e seqüenciar as imagens resultantes de forma a obter uma narrativa audiovisual linear, à moda do que se vê no cinema, e mesmo em 90% da TV. Estou sempre querendo implodir, distorcer, fragmentar, fundir e recombinar as imagens, para obter fluxos e ritmos narrativos que não dependam necessariamente do corte e do seqüenciamento , embora também os utilize.

Bom, se esta sanha anarquizante, que remonta aos longínquos tempos dadaístas, me aproxima daquilo que sempre foi chamado vídeo experimental e me distancia do que sempre foi chamado cinema, quer dizer que o buraco continua sendo mais embaixo, mesmo com o HD. Para dizer a verdade, considero a utilização do vídeo (analógico ou digital, standart ou HD) para a realização de curtas ou longas “cinematográficos”, uma sub-utilização das possibilidades expressivas do meio. Não estou querendo dizer que as pessoas não devam assim fazê-lo. Pelo contrário. É preciso que alguém o faço. Adoro ver filmes de narrativa tradicional. Só não gosto de fazê-los.


7 de jan. de 2013

O vídeo Grafite Vermelho de volta ao youtube

Ano passado fui surpreendido por um fato curioso: meu vídeo Grafite Vermelho Sobre o Sépia foi retirado do youtube por causa da inserção de alguns segundos de uma música pop francesa da década de 70. O vídeo ficou alguns meses disponível e neste período alcançou a impressionante marca de 24 acessos (risível...)! Fiquei realmente me perguntando o que levaria os titulares do direito da música a barrarem a exibição de um vídeo experimental, sem apelo comercial algum, feito por um obscuro videomaker latino-americano. Estariam preocupados com os lucros que a exibição do vídeo me proporcionariam? Neste caso, a razão é pífia, porque o lucro financeiro é nenhum e o lucro na divulgação do trabalho é mínimo, considerando o número de acessos até aquele momento. Estariam então protegendo a música enquanto peça de criação artística, evitando que ela estivesse vinculada a um conteúdo inadequado? Neste caso, o fato me enche de orgulho, pois adoro o tom anárquico e provocativo deste vídeo. De qualquer forma, reeditei o áudio, substituí a música e disponibilizei novamente o trabalho na rede.

3 de jan. de 2012

12 vídeos realizados entre 1996 e 2011

Postei aqui neste início de ano os vídeos que realizei entre 1996 e 2011. Pretendo ainda completar os posts com textos a respeito do processo de criação de cada um deles. São doze vídeos de curta metragem, com tempos de duração que variam entre 3 e 10 minutos. Nestes últimos 15 anos realizei inúmeras outras atividades em audiovisual, mas estes vídeos aqui são resultado de um trabalho totalmente livre, pessoal e, o que mais me interessa, desvinculado de questões econômicas e patrocínios. Percebo claramente que a cada quatro vídeos realizados (e isto acontece de forma espontânea) há o encerramento de um ciclo, em que experimento possibilidades técnicas, formas expressivas e temáticas afins. Sendo assim, temos três séries de quatro vídeos. Gosto de chamar a primeira série de IMAGENS E CASOS DA MUTRÓPOLE, contendo os vídeos Rapsódia do Passeio Público / Madalena, Flores de Plástico, Coração de Fogo / A Cidade Seca e Visões do Profeta Negro. Nesta série, da mesma forma que em todas as outras, há um predomínio quase absoluto da imagem documental. Estas imagens, captadas por mim ou resgatadas de arquivos diversos, em formatos e suportes também diversos, não documentam uma reallidade específica, um fato ou personagem determinado, mas se articulam através de colagens, sobreposições e inserções textuais para criar ambientes, personagens ou histórias fictícias e devaneios em geral. Embora não exista uma referência direta e explícita a este assunto, todos os quatro vídeos trazem, na verdade, reflexões sobre a cidade de Juiz de Fora. O título da série (IMAGENS E CASOS DA MUTRÓPOLE) surgiu de uma brincadeira comum que fazíamos na época, meados da década de 90, dizendo que Juiz de Fora era uma cidade parada no meio do caminho entre o curral e a metrópole, ao mesmo tempo cosmopolita e provinciana (daí a onomatopéia MU, do mugido da vaca, articulada com o termo metrópole, gerando o termo MUTRÓPOLE, invenção do Leo Ribeiro). Um pouco embalados pela sonoridade e pelas idéias do Mangue Beat, deixávamos implícito nesta brincadeira, em letras de músicas, fanzines, projetos, desenhos ou vídeos, o desejo de refletir sobre a identidade de nossa cidade e sobre os rumos de sua produção cultural.

Silenciosas Multidões em Marcha / 5 minutos / 2011

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Cubo de Faces Inefáveis / 3 minutos / 2009

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Difusos Nomes no Concreto / 5 minutos / 2007

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Grafite Vermelho Sobre o Sépia / 5 minutos / 2006

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Lembranças Informais da Revolução / Mini DV e fotografias / 7 minutos / 2003

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1 de jan. de 2012

A Luz Fragmentária de Olavo / S-VHS / 5 minutos / 2000

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Não lembro quando nem por que meio fiquei sabendo que a primeira transmissão experimental de TV no Brasil foi feita em Juiz de Fora, ainda na década 40. Um jogo do Tupi foi transmitido do estádio em Santa Terezinha para um monitor localizado em um bar da Praça da Estação.

Um diálogo teria sido travado entre o cineasta João Carriço, que filmava o jogo em película 35mm para que fosse exibido em seu cinema dias depois, e o responsável pela transmissão de TV, Olavo Bastos Freire. Carriço ficou impressionado com a nova tecnologia e teria sentenciado a morte do cinema: "se as pessoas já estão vendo o acontecimento agora, ao vivo e a distância, não faz mais sentido filmarmos algo para que seja visto depois". E Olavo rebateu, de forma mais lúcida: "não acredito que o cinema morrerá por causa da TV, uma coisa vai complementar e ajudar a outra".

Imaginei inicialmente fazer um curta de ficção reproduzindo este diálogo (fica aqui a ideia para quem quiser realizar). Como este seria um projeto caro, outro projeto mais modesto se interpôs, como quase sempre acontece. Em 2000, por ocasião dos 50 anos da TV comercial no Brasil (a TV Tupi foi inaugurada em 1950) resolvi procurar o Sr. Olavo Bastos Freire, então com 84 anos, e realizar um documentário em vídeo com o seu depoimento. Seria ao mesmo tempo uma homenagem a ele, à tecnologia da TV e um registro histórico.

Peguei minha câmera S-VHS e chamei o Marquinho Pimentel para me ajudar na produção. Fomos recebidos pelo Sr. Olavo num apartamento de dois quartos que ele mantinha exclusivamente para guardar seus equipamentos e uma imensa biblioteca de física e eletrônica. Senti como se estivesse entrando no laboratório de um daqueles cientistas dos filmes de ficção científica da década de 40, tipo o Dr. Brow do filme De Volta Para o Futuro.

Colhemos um depoimento de 2 horas. O Sr. Olavo falou de sua trajetória, explicou o princípio do funcionamento da TV e mostrou diversas de suas "invenções", entre elas um imenso gerador de caracteres primitivo, parecido com as canetas digitais da atualidade, que ele denominou de "escritoscópio". Havia em seu "laboratório", além da câmera e do monitor que ele utilizou na transmissão de TV, ambos ainda em funcionamento, uma série de equipamentos que demonstravam praticamente todas as etapas da evolução da tecnologia da TV. Logo pensei que Juiz de Fora poderia ter um MUSEU DA TV, único do Brasil. Sr. Olavo se predispôs a doar os equipamentos para algum órgão público que cuidasse deste projeto. Sugeri isto para a FUNALFA, dias depois. Como se vê, até hoje ninguém gostou da ideia. Após a morte do Sr. Olavo, alguns destes equipamentos foram parar na FUNALFA, não sei como, e até onde sei continuam por lá, guardados...

Com este material de duas horas em mãos (que ainda guardo em meus arquivos) imaginei editar um vídeo de poucos minutos, e para isso eu deveria determinar um recorte temático. Optei por colocar em evidência as reflexões do Sr. Olavo sobre a natureza do funcionamento da TV, algo que parecia fasciná-lo: a decomposição e recomposição da luz, uma espécie de luz fragmentária ou alquimia eletrônica (a alquimia também se fundamenta na decomposição e recomposição dos elementos químicos, até se obtenha o ouro, ou a pedra filosofal, que no caso da TV seria a própria imagem materializada, mesmo que forma fugaz, na tela).

Assim me distanciei um pouco do registro histórico documental, para me aproximar de algo mais subjetivo e, em certos momentos, lírico. Neste vídeo está uma das imagens mais legais, no meu ponto de vista, de todo o meu trabalho com vídeo: o momento em que Sr. Olavo pega uma pequena câmera de vídeo que entreguei a ele e filma seu laboratório. Por um breve momento ele aponta a camêra na minha direção e há o encontro entre duas imagens, a minha captada por ele e a dele captada por mim. A duas imagens, na edição final, aparecem simultaneamente na tela.

Ainda em 2000, o vídeo recebeu uma Menção Honrosa no 5º Festival de Cinema e Vídeo de Curitiba, foi exibido em alguns outros festivais nacionais e no programa ZOOM da TV Cultura. O Sr. Olavo Bastos Freire veio a falecer alguns anos depois.

O Rosário dos Arturos / S-VHS / 5 minutos / 1999

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Já em 1994, travei conhecimento com o trabalho desenvolvido pelos professores Edmilson e Núbia Pereira (do curso de letras da UFJF) junto à comunidade dos Arturos, na cidade de Contagem (MG). Os Arturos são descendentes (filhos, netos e bisnetos) do negro Artur, e herdaram do pai a tradição do congado, muito ligada a festa de Nossa Senhora do Rosário, que acontece em outubro. Em torno desta cerimônia festiva e religiosa, ainda extremamente viva e intensa, os Arturos sedimentaram a união e a identidade de seu grupo familiar, preservando a ligação com o sagrado e a memória dos antepassados.

Eu vinha nesta época desenvolvendo um interesse pela documentação em vídeo de manifestações folclóricas, aqui mesmo na Zona da Mata. Só em 1997, não me lembro bem por que, resolvi procurar o Professor Edimilson e propor a realização de um documentário sobre os Arturos, em Contagem.

Já sem o aporte técnico da Faculdade de Comunicação (eu me formei no fim de 1996), tive dificuldade em conseguir equipamento para a captação das imagens, o que quase inviabilizou a realização do trabalho no tempo em que desejávamos. Quem me socorreu com o empréstimo de uma câmera S-VHS foi a então colega e hoje jornalista Érica Salazar (e talvez ela nem se lembre deste fato que na ocasião foi de extrema importância).

Viajei com Edimilson para Contagem em duas ocasiões: outubro de 1997, para a festa de Nossa Senhora do Rosário, e maio de 1998, para a festa da libertação, quando então eu próprio já possuía uma câmera de S VHS. Ficamos hospedados na casa em que viveu Artur e onde na ocasião viviam as duas filhas ainda solteiras, Tita e Induca. Fiquei fortemente impressionado e emocionado com a beleza dos rituais, especialmente na festa de outubro, mais reservada aos membros da comunidade e seu círculo de amigos. Tambores, bandeiras, bênçãos, cantos e danças entram pela noite, são retomadas pela madrugada e seguem por todo dia seguinte. Já na festa de maio, uma celebração da abolição da escravatura, a comunidade recebe uma multidão de visitantes de várias regiões de Minas e do Brasil e a celebração adquire um caráter mais oficial, de espetáculo.

Nestas duas ocasiões colhi seis horas de imagens e o depoimento de todos os nove filhos de Artur ainda vivos. A partir deste material editei uma primeira versão do vídeo, com 17 minutos, em linguagem audiovisual convencional e um texto de narração escrito pelo Professor Edimilson. Este vídeo, embora mais completo e informativo, não funcionou muito bem (minha prima dormiu antes dos dez minutos iniciais, quando exibi para ela) e me fez perceber minha própria inapetência e incompetência para a construção de narrativas lineares.

Meses depois, não me lembro de onde, surgiu a ideia de reorganizar as imagens já editadas sob uma nova estrutura, em forma de mandala (um símbolo religioso, onde diversos elementos estão ligados a um centro comum), na qual as imagens sacras e os instrumentos rituais funcionariam como elementos catalizadores. Daí surgiu este fluxo de imagens cíclico e simultâneo, que expressa na forma a própria essência do conteúdo, resumido pelo Edimilson no seu texto de narração, contido na primeira versão: “Os Arturos são um rosário, unidos em família pelo sagrado e pela vida em comunidade”.

Nesta segunda versão, com 5 minutos, o vídeo participou de uns 10 festivais nacionais, foi exibido no programa ZOOM da Cultura e recebeu o prêmio de melhor vídeo experimental na 3ª Mostra de Vídeo do MIS de São Paulo.

30 de dez. de 2011

As Visões do Profeta Negro / S-VHS, 16mm e super 8mm / 7 minutos / 1999

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1998. No material em Super 8mm disponibilizado pelo Nilo Cezar, como relatei no post anterior, além das imagens da Banda Daki havia uma série de imagens feitas pelas ruas de Juiz de Fora, na década de 80. Identifiquei dois temas recorrentes: os marginalizados (mendigos, loucos, crianças abandonadas) e a paisagem arquitetônica da cidade. Me impressionaram de maneira particular as imagens dos prédios que, à época em que as imagens foram feitas, estavam ameaçados de demolição e que inspiraram movimentos em sua defesa: a Casa do Bispo e a Capela do Stela Matutina. Ambos foram realmente demolidos ainda na década de 80, apesar dos protestos, fato que conferia a estas imagens um significativo valor histórico.

Juntou-se a este material, uma série de filmes em 16mm que registravam os primeiros anos da UFJF na década de 60, filmes que encontrei jogados num armário da faculdade. Resgatei estas imagens e fiz uma "telecinagem" artesanal do material, transcrevendo-o para VHS, por pedido da minha professora à época Christina Musse. Não tenho a menor ideia de onde se encontram hoje os originais em 16mm, mas ainda conservo a cópia que fiz em vídeo. Entre estas imagens havia o registro de festivais de cultura popular, pomposas cerimônias oficiais e acadêmicas, concertos musicais, saraus de poesia e coquetéis em galerias de arte, além de uma fantástica panorâmica aérea da cidade.

Percebi que tinha em mãos a possibilidade de compor com todas estas imagens uma espécie de painel antropológico de Juiz de Fora. Naquele distante 1998, a cidade acabara de receber a fábrica de carros da Mercedez Benz e havia uma grande euforia, com a expectativa de que Juiz de Fora retomaria sua antiga vocação desenvolvimentista e vanguardista. Um pouco inspirados pelo movimento Mangue Beat, do Chico Science, eu e alguns colegas de faculdade observávamos estes fatos e acompanhávamos a vida cultural da cidade com um misto de sarcasmo e ceticismo. Reconhecíamos o aspecto algo cosmopolita de Juiz de Fora, mas percebíamos a permanência de uma mentalidade predominantemente provinciana, que dificultava a existência de expressões culturais mais contundentes. Eu traduzi esta impressão com uma frase: "Juiz de Fora é uma cidade parada no meio do caminho entre o curral e Metrópole". Meu amigo Leo Ribeiro, de maneira mais sintética, sentenciou: "Juiz de Fora é uma 'mutrópole' (palavra criada por ele e que mistura da onomatopeia 'mu', traduzindo o mugido da vaca, e a palavra 'metrópole')."

A partir desta ideia de uma "mutrópole" (ou cidade vaca, ao mesmo tempo cosmopolita e provinciana) passamos a orientar quase tudo o que fazíamos: desenhos, quadrinhos, fanzines, letras de música e vídeos. Assim, reuni todas aquelas imagens às quais já me referi, produzi mais algumas imagens de prédios e ruas emblemáticos da cidade, criei um texto e compus este mosaico que batizei de AS VISÕES DO PROFETA NEGRO. Nas imagens de Nilo Cezar, um indivíduo aparentemente louco profere um discurso com as mãos erguidas ao céu, como um profeta obscuro e decadente nas ruas de Juiz de Fora. Me pareceu uma excelente imagem inicial, já que desconfiávamos das "profecias" otimistas que proliferavam entre políticos, empresários e intelectuais, em relação a um futuro promissor para Juiz de Fora. A ideia geral do vídeo é de que as entranhas da cidade, suas misérias e seu conservadorismo, pudessem ser vistas através das suntuosas janelas de prédios neo-clássicos e modernas fachadas de vidro. Aliás, vislumbrei esta imagem síntese depois de um porre no Bar 620, onde íamos quase todas as noites e conversávamos sobre estas ideias.

O vídeo participou de uns dez festivais nacionais em 1999 e foi exibido algumas vezes pela TV Cultura no programa ZOOM.

29 de dez. de 2011

Madalena, Flores de Plástico, Coração de Fogo / S-VHS e super 8mm / 3 minutos / 1997

Clique AQUI para ver o vídeo. Em 1996, quando cursava a graduação em Rádio e TV na UFJF, eu era monitor de edição e cinegrafia no estúdio de TV da faculdade. Descobri dois velhos projetores de 8mm e 16mm abandonados num depósito de equipamentos em desuso. Para nossa surpresa, ambos funcionavam perfeitamente. Resgatei um pequeno filme de super 8mm que eu havia realizado 10 anos antes e passei a fazer experiências visuais com a projeção do filme e o tratamento eletrônico das imagens na ilha de edição de vídeo, ainda analógica. Destas experiências resultou o vídeo A CIDADE SECA, como relatei no post anterior. Uma colega da faculdade, ao ver meu trabalho com o super 8mm, me disse que seu tio, chamado Nilo César, havia feito uma série de pequenos filmes em 8mm na década de 80, pelas ruas de Juiz de Fora. Com a anuência do tio, ela trouxe para mim os filmes, para que eu os utilizasse no trabalho que então desenvolvia. Fiquei particularmente impressionado com as imagens da Banda Daki, um imenso bloco carnavalesco que desfila pela Av. Rio Branco no sábado de carnaval (e do qual eu participo religiosamente, todos os anos, desde 1995). Uma particularidade desta banda, naquela época, era a grande quantidade de homens vestidos de mulher, o que se evidencia nas imagens. Lembrei de uma das músicas que o Sr. Antônio Felício executou em sua viola na Rua Halfeld, um ano antes, para que eu utilizasse no vídeo RAPSÓDIA DO PASSEIO PÚBLICO: "Coração de Luto, de Texeirinha". A viola de Sr. Antônio conferia à música uma solenidade ao mesmo tempo soturna e virulenta, quase épica, eu diria. A tragédia do menino de nove anos que perde a mãe queimada viva num incêndio ganhava mais dramaticidade naqueles acordes meio dissonantes (talvez desafinados mesmo)e no olhar cheio de dignidade, ou de serena tristeza, do Sr. Antônio. Pensando na ideia psicanalítica bastante difundida de que os homossexuais masculinos mantém uma ligação afetiva particularmente intensa com suas mães, chegando às vezes a se identificar completamente com a imagem feminina, criei a história de um gay transformista que abandona sua pequena cidade natal ao perder tragicamente a mãe, e ganha os palcos do país em espetáculos, festas e eventos. O êxtase e o glamour carnavalesco no ambiente urbano, com gays, travestis e homens com vestidos e acessórios femininos, evidentes nas imagens de Nilo César, criam o pano de fundo para o desenrolar do texto, em contraponto ao velho violeiro, que encarna a figura quase lendária do contador de histórias do interior. Mesclando referências culturais diversas, radicalizei a superposição de textos e imagens de vários formatos (super 8mm e super VHS) através de fusões e janelas (inspiradas nos trabalhos então recentes de Sandra Kogut), embora o equipamento disponível na faculdade e na produtora em que eu estagiava na época limitasse em muito tais procedimentos. O vídeo participou de vinte festivais nacionais entre 1997 e 1999, e recebeu dois prêmios: Melhor vídeo na 13º Mostra de Vídeo de Santo André e Melhor vídeo experimental no 13º Rio Cine Festival. Foi também exibido nos programas Primeiro Plano e Zoom, da TVE e da TV Cultura.

A Cidade Seca / S-VHS e super 8mm / 5 minutos / 1997

Clique AQUI para ver o vídeo. Aos 13 anos, em 1986, consegui convencer meu pai a me dar uma câmera de Super 8mm, contrariando todas as opiniões ao redor. O VHS começava a se popularizar e o Super 8 já era considerado um formato em extinção. Comprei assim uma câmera e um projetor usados e ganhei de brinde dois filmes virgens. Com estes filmes (dois rolos de 3 minutos) filmei cenas do cotidiano de Chácara, onde eu morava na época. O campo de futebol no domingo, quintais com galinhas e porcos, meninos jogando bola na praça, pescando e nadando num riacho, uma tempestade, bois pelas estradas de terra, etc. A ideia inicial era filmar uma pequena ficção, usando parentes e colegas como atores, mas minha atração voyerista em percorrer o "olhar vagabundo" sobre as coisas do mundo me levou a filmar um pequeno documentário contemplativo, que já trazia a previsão de alguns efeitos de montagem inusitados (uma espécie de HOMEM COM A CÂMERA rural). Mandei revelar o filme. Dias depois, quando recebo os rolos revelados, descubro que a luz do projetor estava queimada. Não consegui na época quem consertasse a máquina. Resultado: não pude ver o filme projetado. Decepcionado, mas conformado, guardei os rolos e segui trabalhando com vídeo na produtora do meu primo Robson. Anos mais tarde, em 1996, já no curso de Comunicação da UFJF, eu era monitor de edição e cinegrafia no Estúdio de TV. Encontrei numa sala de depósito um velho projetor de Super 8mm, ainda funcionando perfeitamente. Pensei: é minha chance de ver o filme. Só consegui achar um dos dois rolinhos. Me emocionei bastante vendo aquelas imagens feitas 10 anos antes. Eu já realizava na época algumas experiências com edição e manipulação de imagens videográficas, e estudava com bastante interesse as relações que então se desenhavam entre o cinema tradicional e as novas tecnologias eletrônicas. Selecionei algumas imagens em vídeo, feitas por mim nas ruas de Juiz de Fora para um clipe da banda Eminência Parda, e mesclei com as velhas imagens de Super 8mm, usando os efeitos de sobreposição e recorte de uma ilha de edição ainda analógica. O efeito visual plástico me surpreendeu. Além disso, o contraste de texturas e a mistura de imagens rurais e urbanas me suscitavam uma série de reflexões, sobre o trabalho com o audiovisual e sobre a relação que eu mantinha com minha cidade de origem (Chácara) e com a cidade que posteriormente escolhi para viver (Juiz de Fora). Meus colegas viram ainda neste trabalho uma crítica velada ao aspecto provinciano de Juiz de Fora, que sempre sustentou aspirações cosmopolitas (tema de nossos debates em torno da ideia de uma "mutrópole"). Pedi uma trilha sonora ao Paulo Beto, com sons eletrônicos articulados a sons de instrumentos tradicionalmente rurais. Sem texto e com esta trilha, o vídeo participou, em 1997 e 1998, de uns 10 festivais nacionais importantes, além de ser exibido em dois programas da TVE e da TV Cultura. Ainda assim, sempre senti a necessidade de explicitar as reflexões instigadas por este trabalho. Em 2002, re-editei o vídeo inserindo os textos que ele tem agora.

5 de jun. de 2011

Rapsódia do Passeio Público / S-VHS / 10 minutos /1996

Clique AQUI para ver o vídeo 1996. Ando lentamente pelo calçadão da Rua Halfeld num sábado de manhã. Uma roda de capoeira atrai a atenção de muitos que passam por ali. Alguns metros adiante ouço o Sr. Antônio Felício com sua viola caipira. Ele canta não só para sobreviver, mas sobretudo para existir. Um grupo de jovens ensaia passos de street dance, enquanto outros tantos se lançam escada abaixo com seus skates em frente ao Teatro Central. E por um momento a viola embala o street dance, o berimbal pontua o salto do skate e o rap dita a ginga acrobática da capoeira. Passo por ali como quem passa por uma grande celebração da vida, um grande sabat popular no sábado de JF. Deste meu estado de encantamento visual e auditivo, nasceu o desejo de fazer este vídeo. Câmeras emprestadas, uma disciplina na Faculdade de Comunicação da UFJF (sob a orientação da queridíssima Christina Musse) e um estágio na TV Viçosa, me forneceram meios técnicos de realizá-lo. A primeira edição foi divulgada sem os textos, por pura limitação técnica: eu não dispunha de um gerador de caracteres que me permitisse manipular os letters com a versatilidade exigida. Pela primeira vez participei de um festival nacional de vídeo (a 12 Mostra de Vídeo de Santo André). O trabalho foi também incluído no programa Primeiro Plano, então exibido pela TVE e pela TV Cultura. Em 2001 o vídeo foi reeditado para a inserção dos textos, já que eu então dispunha de meios para isso. A idéia era criar um contraste entre dois extremos do cotidiano urbano, transformados em signos visuais e verbais: as imagens videográficas da celebração popular no passeio público e as manchetes sensacionalistas que estampam torpezas quase inacreditáveis do comportamento humano.

7 de nov. de 2009

Outros livros

Existem estes outros livros que conheço, mas não tenho. Acho que um deles inclusive está esgotado na editora, o ENTRE-IMAGENS. De qualquer forma, vale a pena registrar aqui, para quem se interessar em pesquisar. ENTRE-IMAGENS (Raymond Bellour) O QUE É VIDEO (Cândido José Mendes de Almeida) CINEMA, VIDEO GODARD (Philippe Dubois) VIDEO ARTE, da Taschen (Sylvia Martin) EXTREMIDADES DO VIDEO (Christine Mello)

6 de nov. de 2009

Dicas de livros

Enquanto preparo os arquivos dos meus vídeos para postagem (trabalho hercúleo, já que, por incrível que pareça, a maioria deles não estava digitalizada até o momento), vou postando comentários e dicas. Hoje me ocorreu fazer uma lista de meus livros de cabeceira sobre produção e arte do vídeo. Os livros que, neste terreno, fizeram minha cabeça. Recomendo-os a qualquer pessoa que queira se interar melhor sobre o assunto. Aí vai: A ARTE DO VÍDEO (Arlindo Machado). Embora já um tanto antigo (a primeira edição é de 1988), é bastante esclareceder a respeito dos primórdios, dos princípios e do sentido dessa linguagem e desta tecnologia contemporâneas que continuam a se transformar e a se misturar com outras linguagens e outros meios. PRÉ-CINEMAS E PÓS CINEMAS (Arlindo Machado). É na verdade uma coletânea de artigos do autor, que fornece um painel sobre questões que se estendem do mito da caverna de platão ao vídeo digital e a internet. ON VÍDEO - O SIGNIFICADO DO VÍDEO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (Roy Arnes). Não diz muita coisa a respeito da linguagem videográfica ou de sua estética específica, mas traça de forma precisa toda a trajetória da tecnologia do audiovisual, desde o rádio, passando pela TV, pelo cinema, até chegar ao vídeo contemporâneo, desvendando o significado de cada uma destas tecnologias para a comunicação no século XX. A ÉPICA ELETRÔNICA DE GLAUBER (Regina Mota). Centrado em algumas das últimas obras do cineasta Glauber Rocha, aborda aquela que, para mim, foi sua grande contribuição para o audiovisual contemporâneo: a utilização pioneira, despojada, anárquica e provocativa da tecnologia do vídeo no programa de TV Abertura, no fim da década de 70. Esta experiência teve reflexos na geração de realizadores de vídeo da década de 80 e se faz sentir ainda hoje na TV comercial, em programas como Pânico na TV e CQC.

5 de nov. de 2009

Sobre o documentário COR

O segundo trabalho que mais me chamou a atenção na mostra competitiva regional do festival Primeiro Plano foi o documentário COR. Aliás, só vou chamá-lo categoricamente de documentário porque a autora, Adriana Barata, assim o faz. Para descrevê-lo de forma breve, usarei as palavras da própria Adriana, na apresentção do vídeo no catálogo do festival: Delicado e provocador; um mergulho além das imagens. Uma imersão poética na intimidade branca e visceral da artista plástica Edna Rezende. O vídeo conquistou simpatia generalizada entre as pessoas com as quais conversei no fim da sessão. Somente uma ressalva comum, também a todos: o vídeo é desnecessariamente longo, com planos muito demorados. Concordo. Adriana não faz concessões. E acho bom que não as faça. Ela trabalha em seu próprio tempo, seu próprio ritmo. Dessa forma, seu vídeo se faz autêntico, íntegro, apesar de demorado, lento. Leva a cabo sua proposta e sua função. Ao dialogar com o trabalho de uma artista plástica contemporânea, Adriana não poderia fazer algo muito diferente do que fez. Ela teria também, como o fez de forma exemplar, que dialogar com a arte contemporênea do vídeo, com a câmera instável, com os enquadramentos e ângulos inusitados, com as fusões intermitentes, com objetos desfocados, com a íris um ponto abaixo ou um ponto acima. Tinha mesmo que incorporar em sua obra o ruído, o vazio, os tempos mortos. O que seria do angustiante clássico do cinema experimental, LIMITE, caso Mário Peixoto não se permitisse aqueles dolorosos, imensos, melancólicos e belos planos seqüência ? Nada. Dessa forma, Adriana se salva de realizar o que poderia ter se tornado uma matéria jornalística da editoria de arte e cultura do MGTV. Ao invés disso, ela enche a tela com suas próprias dúvidas, suas próprias inquietações, que se refletem nas possíveis intenções da artista, amplificando-as, descortinando aquele universo aparentemente hermético. Para costurar e conduzir esta miríade de imagens que se convertem em impressões vagas e sensações estranhas, temos um texto descaradamente subjetivo, na voz da própria videomaker, perscrutando as obras de Edna Rezende como uma sonda, ao mesmo tempo sutil e incômoda, implacável. Admirável, Adriana.

4 de nov. de 2009

Destaques da Mostra Primeiro Plano Regional

O festival nacional de cinema Primeiro Plano, que exibe filmes e vídeos de realizadores estreantes, terminou no sábado, dia 31. Participei do juri que premiou a mostra de vídeo regional, com trabalhos de realizadores de Juiz de Fora e região. Dois trabalhos, os documentários FIRMA e COR, me chamaram a atenção de maneira especial e quero comentá-los aqui. Ambos dialogam, em alguns de seus aspectos, com a tradição do cinema e do vídeo experimentais. FIRMA, ganhador do Prêmio Incentivo Primeiro Plano, tem direção de Mariana Musse e fotografia de Tomyo Costa Ito. O documentário desvenda o universo particular de um homem que realiza o sonho de sua vida ao sair da quase indigência na grande cidade para tornar-se dono de um pequeno bar num arraiau da região. Tomyo tira leite de pedra ao realizar um belo trabalho de fotografia com uma handcam amadora de 1CCD. Realmente impressionante. A câmera se detém sobre pequenos objetos de uso cotidiano, como o velho coador de café, passeia lentamente pelas garrafas de cachaça, pelas raízes penduradas nas paredes, capta num longo e vagaroso zoom in as feições e expressões do personagem enquanto ele fala de forma ininterrupta durante alguns minutos, revelando suas angústias passadas e presentes. Estes planos longos nunca são a mera exposição imparcial de relatos ou pequenas ações que poderiam ser enfadonhas, mas ao contrário, permitem uma interação dinâmica e humana do personagem com a câmera e a equipe que é explorada de forma eficiente pela direção. Essa interação acaba por revelar, nos momentos finais, aquela que é a essência mesma dos documentários mais ousados e menos convencionais. O personagem confessa: "depois deste filme, minha vida não será a mesma". Ambos, o documentarista e seu personagem, são igualmente tocados e talvez, em alguma medida, transformados pela experiência do documentário. Neste momento, o personagem levanta da cadeira e se dirige a um dos membros da equipe. Foi abraça-lo emocionado ? Ele esbarra na câmera, que perde o enquadramento. E ficamos por um bom tempo a ver a cadeira vazia, até que ele volte. O que poderia ser um erro a ser eliminado na edição, para um documentário que fosse convencional, aqui se transforma em elemento significativo. Fico feliz em ver dois jovens universitários com o olhar tão maduro e ao mesmo tempo sensível. Amanhã comento o documentário COR.

3 de nov. de 2009

Olá, seja bem-vindo

Estou iniciando hoje este blog onde pretendo compartilhar minhas reflexões e realizações nas áreas do vídeo e do cinema independente. Como percebo uma carência de espaços para o debate sobre a linguagem da vídeo arte, vou concentrar meus posts neste assunto específico. Mesmo por que tenho retomado, depois de algum tempo me dedicando a outras atividades, meu trabalho com o vídeo experimental. Para começar, devo declarar minha paixão por este terreno da produção audiovisual. Seja ele chamado de "video arte", "vídeo experimental", "vídeo alternativo", não importa. O que me interessa são os realizadores, os autores e as obras que exploram as possibilidades expressivas da tecnologia do vídeo, desde a década de 60, para criar peças de audiovisual que, de alguma forma, se contraponham ao modelo de produção e expressão audiovisuais fundados e perpetuados pela TV e pelo cinema industrial. Vai já a dica de um blog homônimo: http://artedovideo.blogspot.com