5 de nov. de 2009

Sobre o documentário COR

O segundo trabalho que mais me chamou a atenção na mostra competitiva regional do festival Primeiro Plano foi o documentário COR. Aliás, só vou chamá-lo categoricamente de documentário porque a autora, Adriana Barata, assim o faz. Para descrevê-lo de forma breve, usarei as palavras da própria Adriana, na apresentção do vídeo no catálogo do festival: Delicado e provocador; um mergulho além das imagens. Uma imersão poética na intimidade branca e visceral da artista plástica Edna Rezende. O vídeo conquistou simpatia generalizada entre as pessoas com as quais conversei no fim da sessão. Somente uma ressalva comum, também a todos: o vídeo é desnecessariamente longo, com planos muito demorados. Concordo. Adriana não faz concessões. E acho bom que não as faça. Ela trabalha em seu próprio tempo, seu próprio ritmo. Dessa forma, seu vídeo se faz autêntico, íntegro, apesar de demorado, lento. Leva a cabo sua proposta e sua função. Ao dialogar com o trabalho de uma artista plástica contemporânea, Adriana não poderia fazer algo muito diferente do que fez. Ela teria também, como o fez de forma exemplar, que dialogar com a arte contemporênea do vídeo, com a câmera instável, com os enquadramentos e ângulos inusitados, com as fusões intermitentes, com objetos desfocados, com a íris um ponto abaixo ou um ponto acima. Tinha mesmo que incorporar em sua obra o ruído, o vazio, os tempos mortos. O que seria do angustiante clássico do cinema experimental, LIMITE, caso Mário Peixoto não se permitisse aqueles dolorosos, imensos, melancólicos e belos planos seqüência ? Nada. Dessa forma, Adriana se salva de realizar o que poderia ter se tornado uma matéria jornalística da editoria de arte e cultura do MGTV. Ao invés disso, ela enche a tela com suas próprias dúvidas, suas próprias inquietações, que se refletem nas possíveis intenções da artista, amplificando-as, descortinando aquele universo aparentemente hermético. Para costurar e conduzir esta miríade de imagens que se convertem em impressões vagas e sensações estranhas, temos um texto descaradamente subjetivo, na voz da própria videomaker, perscrutando as obras de Edna Rezende como uma sonda, ao mesmo tempo sutil e incômoda, implacável. Admirável, Adriana.

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