4 de nov. de 2009

Destaques da Mostra Primeiro Plano Regional

O festival nacional de cinema Primeiro Plano, que exibe filmes e vídeos de realizadores estreantes, terminou no sábado, dia 31. Participei do juri que premiou a mostra de vídeo regional, com trabalhos de realizadores de Juiz de Fora e região. Dois trabalhos, os documentários FIRMA e COR, me chamaram a atenção de maneira especial e quero comentá-los aqui. Ambos dialogam, em alguns de seus aspectos, com a tradição do cinema e do vídeo experimentais. FIRMA, ganhador do Prêmio Incentivo Primeiro Plano, tem direção de Mariana Musse e fotografia de Tomyo Costa Ito. O documentário desvenda o universo particular de um homem que realiza o sonho de sua vida ao sair da quase indigência na grande cidade para tornar-se dono de um pequeno bar num arraiau da região. Tomyo tira leite de pedra ao realizar um belo trabalho de fotografia com uma handcam amadora de 1CCD. Realmente impressionante. A câmera se detém sobre pequenos objetos de uso cotidiano, como o velho coador de café, passeia lentamente pelas garrafas de cachaça, pelas raízes penduradas nas paredes, capta num longo e vagaroso zoom in as feições e expressões do personagem enquanto ele fala de forma ininterrupta durante alguns minutos, revelando suas angústias passadas e presentes. Estes planos longos nunca são a mera exposição imparcial de relatos ou pequenas ações que poderiam ser enfadonhas, mas ao contrário, permitem uma interação dinâmica e humana do personagem com a câmera e a equipe que é explorada de forma eficiente pela direção. Essa interação acaba por revelar, nos momentos finais, aquela que é a essência mesma dos documentários mais ousados e menos convencionais. O personagem confessa: "depois deste filme, minha vida não será a mesma". Ambos, o documentarista e seu personagem, são igualmente tocados e talvez, em alguma medida, transformados pela experiência do documentário. Neste momento, o personagem levanta da cadeira e se dirige a um dos membros da equipe. Foi abraça-lo emocionado ? Ele esbarra na câmera, que perde o enquadramento. E ficamos por um bom tempo a ver a cadeira vazia, até que ele volte. O que poderia ser um erro a ser eliminado na edição, para um documentário que fosse convencional, aqui se transforma em elemento significativo. Fico feliz em ver dois jovens universitários com o olhar tão maduro e ao mesmo tempo sensível. Amanhã comento o documentário COR.

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